Presidente faz discurso desconexo justificando troca de ministro da Saúde em meio à pandemia e chega a falar em estado de sítio.
Sentiu o golpe. Depois de semanas de demite-não-demite, Jair Bolsonaro finalmente consumou a saída de Luiz Mandetta. Em pronunciamento longo, com cara de abatido e fala um tanto desconexa, o presidente mostrou que sentiu o golpe de uma de suas decisões mais controversas até aqui, que o colhe no momento de maior impopularidade em um ano e três meses. Disse que foi um “divórcio consensual”, elogiou o ex-auxiliar, que antes tratou de fritar em óleo quente, e gastou mais tempo tentando emendar seu discurso até aqui sobre covid-19 do que apresentando o novo ministro.
Quem entra. Nelson Teich é oncologista, de São Paulo, e chegou a integrar a lista dos mais cotados para a pasta na formação do governo. Mandetta, na época, venceu o embate por contar com o aval do governador de Goiás, Ronaldo Caiado, à época aliado de Bolsonaro. Teich fez um discurso curto ao ser apresentado, e depois concedeu entrevistas a algumas emissoras de TV.
Nem lá, nem cá. Embora seja defensor do isolamento social como estratégia de contenção da epidemia de covid-19, o novo ministro entendeu o vespeiro em que está se metendo e procurou não contrariar Bolsonaro, que insiste em falar em relaxamento do distanciamento e em criticar governadores. O novo ministro defendeu a testagem em massa como forma de definir a redução do distanciamento, algo que Mandetta também defendia e prometia, mas que o Brasil, semana após semana, não consegue implementar.
Estado de quê? Na fala confusa e acuada, de quem sabe que demitiu um auxiliar popular, Bolsonaro chegou a falar que governadores e outros Poderes tomam medidas restritivas aos direitos individuais. Nessa hora, falou que não se quer ditadura e que, vejam só, quem tem a prerrogativa de decretar “estado de sítio” no País é só o presidente da República. Oi?!
O que sai. Ao mesmo tempo em que Bolsonaro falava ao lado de Teich no Planalto, Luiz Mandetta e equipe se despediam no Ministério da Saúde. Entre emocionado e aliviado, o ministro elogiou o sucessor, lembrou o trabalho que desenvolveu na pasta, louvando êxitos e auxiliares, e prometeu ajudar no que for convocado no combate ao coronavírus.
Reação. Foi só Bolsonaro começar a falar, lá pelo meio da coletiva de Mandetta, para as janelas do Brasil confinado serem tomadas pelo mais forte panelaço até agora, acompanhado por gritos ferozes de “fora Bolsonaro”. Entre prefeitos, governadores, partidos políticos e parlamentares a esmagadora maioria das reações também foi negativa. O presidente recebeu críticas por ter empreendido uma campanha contra o ministro em plena crise e foi desmentido por prefeitos e governadores quando disse que esses nunca buscaram interlocução com o governo federal antes de definir medidas restritivas para conter o contágio.
Por Vera Magalhães
Fonte: Site BR Político
Fonte: Site BR Político
0 Comentários
Facebook.com/akiagoraEventos