Previsão do Banco Central é de lançamento até o fim deste ano. BNB é uma das instituições que já iniciou testes para avaliar a segurança
Por: Pedro Cunha
No Drex, o principal ponto é a oferta de novos serviços e produtos financeiros, mais baratos e mais acessíveis (Créditos: Divulgação/Banco Central)
Os brasileiros deverão contar com uma nova versão do Real, bem diferente da tradicional nota física já conhecida pela população, até o fim deste ano, de acordo com previsão do Banco Central. A novidade é o Drex, que é mais uma revolução na forma de pagamento em uma nova era de serviços e produtos financeiros com os ativos digitais, a tokenização e as CBDCs, as conhecidas moedas digitais de bancos centrais. A nova moeda digital será utilizada por instituições financeiras autorizadas para facilitar as transações no país, com a premissa de tornar os pagamentos digitais mais acessíveis, eficientes e seguros, além de impulsionar não apenas a digitalização, mas também a tokenização da economia. Um dos bancos que já se uniu à iniciativa e iniciou testes no sistema foi o Banco do Nordeste.
Assim como o Pix, o Drex está inserido na chamada Agenda BC#. Trata-se de um planejamento estratégico do Banco Central que tem, entre seus focos, a inovação, a competitividade e a inclusão. O intuito do Banco Central é que, assim como o Pix revolucionou a forma de pagamento de produtos e serviços, o Drex também transforme a oferta e o consumo de serviços financeiros e de investimentos.
O economista e coordenador da iniciativa da moeda digital brasileira no Banco Central, Fabio Araújo, reforça que o Drex não substituirá o Real. “Ele é o Real em uma representação digital”, diz. Araujo acrescenta que a estratégia de dar um nome diferente foi adotada pelo BC para evitar a fragmentação da identidade do Real, a fim de garantir uma transição suave para essa nova era financeira.
No Drex, o principal ponto de aplicabilidade é a oferta de novos serviços e produtos financeiros, mais baratos e mais acessíveis, em uma intersecção com o Open Finance, sistema financeiro aberto, que traz a possibilidade das pessoas compartilharem dados sobre seus hábitos de gastos e de investimentos entre as diferentes instituições, bancárias e não bancárias. “O Drex vai fazer o Open Finance se materializar melhor na vida das pessoas”, ressalta Araújo. “Com o Pix, conseguimos democratizar o acesso ao serviço de pagamento. O Drex vai democratizar o acesso ao serviço financeiro, a investimento, crédito, seguros”.
Quanto à segurança, um dos diferenciais do Drex é que o uso de auxílios, como o Vale Gás, por exemplo, poderá ser restringido para seus devidos fins, como o uso exclusivo para a compra de gás, garantindo que o dinheiro do auxílio seja usado de forma adequada. Sócio da consultoria de inovação financeira Spiralem, Bruno Diniz acredita que o Bolsa Família, assim como outros benefícios sociais, possam ser incluídos no Drex também. “Com a moeda digital, podemos ter dentro do mercado financeiro a programação da utilidade e funcionalidade do dinheiro de forma nativa. Com um benefício social desenvolvido em cima dessa plataforma, é possível evitar uma situação que acontece muito, que é o desvio de finalidade”, conta Diniz.
A nova moeda digital brasileira, segundo a Associação Brasileira das Empresas Tokenizadoras de Ativos e Blockchain (ABToken), possuirá o mesmo valor da moeda física, diferente do que ocorre com criptoativos. A movimentação será exclusivamente em ambiente digital amparado pela tecnologia Blockchain, registro que armazena dados em cadeia de blocos interconectados.
Os principais bancos brasileiros vêm fazendo testes e projetos atrelados a blockchain há quase uma década. O projeto de criação do Drex já se estende há alguns anos, mas deu avanços mais concretos em 2022 e 2023.
O BNB, que está entre as instituições participantes do Piloto Drex, tem realizado testes, desde fevereiro, utilizando ferramentas do sistema financeiro para avaliar a segurança das operações. Gerente do Hub de Inovação do Banco, Carlos Eduardo Gaspar explica que o principal ganho com a chegada do Drex é a agilidade nos processos. “Como funciona hoje? O registro de um carro, por exemplo, fica no cartório. Se eu for comprá-lo, tenho de conferir a propriedade, se não está dado como garantia, vou ao cartório, as duas partes fazem registros de compra e venda, transferência. Imagina esse registro sendo eletrônico e inviolável? Na hora de comprar, o contrato eletrônico confere se uma parte tem o dinheiro e se a outra possui o bem. O próprio sistema faz a transferência automática e de forma imediata. Além do tempo para a troca de propriedade entre as partes, elimina uma série de participantes de um processo físico convencional”, detalha Gaspar.
O BNB é membro de um consórcio de empresas liderado pela Tecban, especializada em tecnologia para serviços bancários, na realização de testes de segurança.
Para o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas do Recife (CDL-Recife), Fred Leal, a chegada da nova moeda digital ao mercado envolve um processo gradativo e lento, mas tende a seguir a linha de expansão que ocorreu com o Pix. “Vai ser uma evolução aos poucos, mas vai demorar”, avalia. Ele acredita que essa adesão vai variar conforme o entendimento da população, da realidade financeira das pessoas, do interesse e necessidade das empresas.
Fred diz ainda que o Drex vai modernizar o sistema financeiro e dar mais controle ao governo das movimentações. “O governo está implantando essa novidade porque é mais uma forma de controle e um aspecto fundamental para reduzir as despesas na circulação, recolhimento e na emissão de moeda”, avalia. O presidente acrescenta que a moeda digital não trará impacto negativo ao comércio. “É a mesma coisa da evolução do Pix, a evolução do cartão de crédito. O comércio se adapta”, conclui o representante do varejo recifense.
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